A história de Teseu e o preço do esquecimento



Teseu é um jovem de vinte anos que percorre as estradas gregas. Belo, forte e de sangue nobre, ele vai a Atenas para ser reconhecido por um pai que nunca conheceu pessoalmente, o rei Egeu.

E esse jovem confiante deseja assumir o lugar que cabe a ele, o de herdeiro do trono de Atenas. Uma revelação acaba de abalar sua existência. Sua mãe lhe confiara o segredo de seu nascimento.

Muito tempo atrás, o rei Egeu reinava havia anos, mas não tinha filhos para sucedê-lo. Sua dinastia estava condenada a desaparecer, e o velho rei não poderia aceitar isso. Egeu decide então recorrer aos deuses, pois era sua última esperança. Então ele vai até Delfos para consultar o oráculo.



Aos pés do monte Parnasso, fica o maior santuário do mundo. Pela boca da pitonisa, se manifestam as vontades dos deuses. A pitonisa vive reclusa no templo de Apolo. Erguida sobre um tripé, hipnotizada pela fumaça e pelo incenso, ela transmite aos sacerdotes as palavras divinas.

Egeu consulta os deuses. Quando o filho que ele tanto deseja será dado a ele? A resposta da pitonisa é obscura, e Egeu não entende o oráculo. Desiludido, ele vai embora, atormentado pelo enigma. Na volta, ele faz uma escala em Trezena, sem saber que o seu desejo será enfim atendido.



Trezena é reinada por Piteu, um rei conhecido por sua clarividência. Ele logo entende o sentido do oráculo de Delfos, mas não conta a Egeu, pois tem um plano. Piteu organiza um grande banquete, e quando Egeu está desorientado pela bebida, ele coloca na cama do hóspede sua própria filha, Etra.

E assim, Teseu foi concebido. Quando Etra conta que está grávida, o rei Egeu fica radiante. Mas ele também está preocupado, pois de Atenas vêm ameaças de inimigos e pretendentes. Eles estão dispostos a tudo para ter o poder, inclusive eliminar uma criança e antecipar a morte de um velho.



O filho viverá escondido em Trezena, até que seja forte o suficiente para ser reconhecido como um rei. E foi assim que, no mais absoluto sigilo, Teseu cresceu, longe das intrigas e das conspirações. No entanto, Egeu se pergunta como ele poderá reconhecer seu filho quando chegar a hora certa.

Egeu deixa com Etra o que os gregos chamam de símbolos, objetos que lhe permitirão reconhecer Teseu como seu filho legítimo quando ele os mostrar. Esses símbolos serão suas sandálias e sua espada. Egeu os enterra no solo, sob uma enorme pedra, que somente seu filho conseguirá erguer.



Os anos se passam. Teseu se tornou um grande e belo jovem. Forte, educado, bravo, impetuoso e, como todos os meninos de sua idade, fascinado pelas façanhas dos heróis gregos. Ele encontrou no lugar que sua mãe mostrou, a espada e as sandálias de seu pai, e se prepara para sair de Trezena.

Sua mãe lhe dá um último abraço, e então faz uma confissão, revelando a Teseu a verdade sobre as suas origens. Piteu tramara para que ela e Egeu ficassem na mesma cama e tivessem uma relação porque ela acabara de ser violentada por Poseidon, um dos mais poderosos deuses do Olimpo.



Quando os deuses gregos dividiram o mundo entre si, o irmão mais velho de Zeus recebeu como reinos o mar e os oceanos. Ele empunha um tridente, que finca no mar e na terra. Ele é o deus das tempestades e dos terremotos. Poseidon representa a cólera, a desordem, o perigo e a violência.

Dias antes de estar com Egeu e contra sua vontade, a jovem Etra foi conduzida até Poseidon por uma deusa que apareceu à ela em sonho. Atena, uma deusa a quem ninguém pode desobedecer. De forma premeditada, ela entregou Etra aos apetites sexuais de Poseidon, em busca de trégua.



Teseu nasceu dos amores de Etra com Poseidon e com Egeu. Ele é ao mesmo tempo, filho de um deus e de um rei. Essa dupla filiação dá a Teseu uma identidade quase perfeita. Sua ascendência divina explica seu poder sobrenatural, assim como suas façanhas e sua impressionante trajetória.

Para chegar a Atenas, ele dispõe de dois caminhos. A via mais segura é o mar, mas existe uma outra opção muito mais perigosa, a estrada. Ela atravessa a Grécia pelo istmo de Corinto. Essa região é incrivelmente perigosa porque há vários anos, monstros e bandidos semeiam o terror por ali.



Teseu escolhe o caminho mais difícil, e desafia todas as criaturas que cruzam o seu destino. Sua maior vitória é obtida contra o impiedoso Procusto, um bandido que prendia os viajantes a uma cama, estendendo seus membros ou os cortando. Teseu provoca nele os mesmos sofrimentos.

Teseu chega a Atenas, e suas façanhas já são conhecidas. Graças as sandálias e a espada, ele é reconhecido por seu pai. Ali estavam o rei e seu herdeiro. Tudo ia bem, ao menos por enquanto, porque Atenas agora estava sob a ameaça da maior potência marítima daqueles tempos: Creta.



Creta é dominada pelo rei Minos, que venceu Atenas, e exigiu que dali em diante, todo ano, sete moças e sete moços fossem escolhidos ao acaso e enviados como alimento para um monstro aterrorizante, chamado Minotauro. Uma criatura que possui corpo de homem e cabeça de touro.