A história do surgimento de Zeus e a conquista do poder



Este que vemos é o pai dos deuses e dos homens, a quem todos devem obediência. Mortais ou não. Ele é o senhor dos elementos, e responsável por todos os fenômenos atmosféricos, tanto os maus ventos quanto os que trazem as chuvas benfazejas.



Ele é o defensor do poder real e da hierarquia social. Mas, principalmente, ele possui a arma de destruição em massa de seu tempo, o raio. E não hesita em utilizá-lo contra quem ousa desafiá-lo.

De todos os nomes de deuses, o dele é o que parece mais familiar: Zeus. Vejam como é majestoso, com sua barba densa e seus cabelos longos. Em uma mão, o cajado em cipreste, símbolo de sua realeza. Na outra, a égide, que ele usa para provocar as tempestades.



Para o rei supremo, uma habitação suprema. Zeus mora na região calma acima da atmosfera terrestre. As montanhas são seus tronos, mas sua residência mais conhecida fica no Olimpo. Lá está seu palácio, construído por seu filho Hefesto, o deus do fogo e dos ferreiros.

Mas Zeus nem sempre foi esse deus soberano. Outro destino estava reservado a ele no nascimento. Tudo começou em tempos remotos, antes do tempo. No início, só havia a escuridão, e a escuridão deu à luz ao Caos, o vazio invadido pelas trevas.

Depois nasceu Gaia, a Terra, a deusa primordial. E do ventre de Gaia, vieram as altas montanhas, os cimos cobertos de neve, as cavernas, as florestas, os oceanos e sua espuma, as planícies e os rios.



Mais tarde, enquanto este mundo ganhava forma, nasceu Eros, o sopro, o invisível, que suscita nos seres o desejo de se aproximar e de acasalar. Gaia, a Terra-Mãe, está sozinha. Ninguém a ama e ela não ama ninguém. E a quem ela poderia amar, senão a si mesma? Nada, senão o Caos.

Então, para suprir sua própria solidão, Gaia decide dar à luz Urano, o Céu, seu justo oposto. O Céu e suas miríades de constelações. E o Céu se instala sobre Gaia, enrola-se contra ela. E eles se tornam praticamente um casal. Os dois planos sobrepostos do Universo.



Foi aí que Eros interveio. De forma insensível, ele desperta em Urano esse ímpeto misterioso chamado desejo, e Urano sucumbe, funde-se em Gaia e faz amor com ela. Não uma vez só, mas cem vezes. Não um dia só, mas mil dias. Logo nascem dezenas de filhos.

Os doze primeiros são chamados de titãs. Depois vem os ciclopes, chamados assim porque tem só um olho na testa. Em seguida, nascem os hecatônquiros, com cem braços e cinquenta cabeças. Finalmente, Gaia dá à luz aos gigantes, monstros de grande altura e de aspecto assustador.

Mas há um problema, nenhum desses filhos consegue se mover. Eles ficam ali, prisioneiros do colo de sua mãe, no mesmo lugar onde foram concebidos. E não sem razão, o Céu, Urano, permanece literalmente colado à Terra Gaia. Entre eles não existe espaço algum para que os descendentes saiam de encontro à luz e vivam uma existência autônoma.



Quando tentam fugir, seu pai, Urano, empurra-os impiedosamente. Então, frustrados, os titãs descontam a raiva na mãe. Eles se precipitam sobre ela, debatem-se, sufocam-na, oprimem-na. Gaia sofre. Ela está ao mesmo tempo, esgotada e furiosa. A situação não pode permanecer assim.

Gaia apela para a revolta e ordena a seus filhos que se voltem contra o pai. Ninguém se mexe, exceto o mais jovem dos titãs, Cronos, que aceita travar a batalha. Gaia fabrica em segredo uma foice de sílex e a entrega a seu filho. Agora basta aguardar o momento propício.



Urano, sempre desejoso, vai fazer amor com Gaia. Nesse momento, Cronos segura o sexo do pai com a mão esquerda, corta-o com um duro golpe e o atira ao mar. Urano, devastado pela dor, afasta-se violentamente de Gaia. Finalmente eles estão separados.

A partir desse momento, Urano, o Céu, fixa-se no alto do mundo para não se mover mais. Cronos assume o poder e logo se casa com sua irmã, Reia. Poderíamos imaginar que seriam tempos serenos, mas já se sabe que, com o poder nas mãos, os príncipes não suportam ser deslocados.



Tendo sido avisado por Gaia que um de seus filhos um dia roubaria seu trono, Cronos começa a devorar seus filhos assim que Reia os dá à luz. Desesperada, a triste deusa não tem escolha senão tentar escapar da fúria assassina do marido. Mais uma vez grávida, ela decide fugir. E faz bem, porque o filho que carrega não é como os outros. Trata-se de Zeus.

Reia foge para a Ilha de Creta, onde dá à luz no mais absoluto sigilo. Depois de deixar o filho com ninfas, divindades que personificam as forças vivas da natureza, ela volta para perto de Cronos.

Ele sabe que Reia estava grávida, e espera conhecer seu recém-nascido. No lugar da criança, ela entrega a Cronos uma pedra enrolada em fraldas. O titã glutão não se dá conta de nada e a devora.



Como ele poderia pensar que, longe dali, na ilha de Creta, no Monte Ida, um filho vingaria sua mãe, libertaria seus irmãos, o despojaria de suas honras e reinaria em seu lugar sobre os imortais?