Nas montanhas de Creta, Zeus cresce sob o olhar protetor da avó, Gaia. Ele é alimentado com ambrosia e néctar, levados até ele por pombas e águias, saboreia delicados favos de mel, que as abelhas destilam exclusivamente para ele, e bebe o leite da ninfa-cabra, Amalteia.
Quando se tornar senhor do Universo, Zeus não esquecerá sua benfeitora. Amalteia será erguida entre as estrelas e se tornará a Constelação de Capricórnio. Ele pegará um de seus chifres e o dará às ninfas que o criaram. É a célebre cornucópia, que nunca deixa faltar comida a seu possuidor.
Mas o perigo está a espreita. Cronos se dá conta de que foi enganado pela esposa. Ele parte em busca do filho que fugiu de sua mórbida obsessão. Ele sabe que o filho vai tomar seu trono. Cronos vasculha, ergue montanhas e colinas, sonda os mares, mas não encontra nada.
O berço de Zeus está escondido em uma caverna do Monte Ida, e a entrada está cercada por curiosas criaturas, os curetes. Eles são barulhentos demônios, que receberam a ordem de realizar danças bélicas, batendo suas lanças contra seus escudos para encobrir o choro do jovem deus.
Os anos passam, Zeus cresce. E quanto mais cresce, mais deseja se vingar de seu indigno pai, cujas barbáries lhe foram contadas por sua mãe. Já adulto, Zeus conhece Métis, uma oceânide, uma ninfa do mar, filha dos titãs Oceano e Tétis.
Métis é a deusa da prudência, mas também da astúcia. O jovem Zeus decide seduzi-la. Com naturalidade, ele fala a ela sobre suas origens e seu desejo de fazer com que o pai pague pelos crimes que cometeu, e sua promessa de libertar seus irmãos e irmãs, presos na barriga de Cronos.
Métis sugere a solução, fazendo com que Cronos beba um emético, uma droga misturada com mel, que o fará vomitar. Zeus conta seu plano para Reia, que prepara a droga e a entrega a seu filho, após apresentá-lo à corte de Cronos como o taberneiro, jovem encarregado de dar de beber aos deuses.
Diante de seu pai, Zeus lhe estende a taça. Cronos, que não desconfia de nada, a bebe. Mas assim que toma a poção, ele regurgita todos os filhos que Reia pôs no mundo.
Furioso por ter sigo enganado, e ainda determinado a preservar seu trono, Cronos decide fazer seu filho pagar. E ele toma de aliados todos os titãs, seus irmãos e irmãs. Os filhos de Reia, por sua vez, ficam espontaneamente ao lado de Zeus, no Olimpo. A terrível guerra pode começar.
Ela será conhecida pelo nome de Titanomaquia e durará centenas de anos. Embora o desfecho da luta pareça incerto, Gaia, a avó ao mesmo tempo sombria e luminosa, explica a Zeus que, para vencer, ele precisa de forças da mesma geração dos titãs, os ciclopes.
Como os ciclopes são divindades primordiais, eles têm toda a brutalidade e violência inerente as primeiras criações. Além disso, Gaia assinala, os ciclopes oferecerão a Zeus as armas definitivas: o trovão, o raio e o relâmpago. Mas eles estão apodrecendo nas profundezas do Tártaro, a parte mais remota e mais terrível dos infernos. Foi lá que Cronos os jogou.
Basta que Zeus os liberte para conseguir seu apoio. Zeus aceita e, ajudado pelas criaturas de um olho só, não demora a vencer os titãs. Viriam então os dias de paz? Não. Porque Gaia, que ajudara o neto a conquistar o poder, agora o repreende por ter largado seus próprios filhos.
Então ela lança contra Zeus os gigantes, criaturas consideradas invencíveis. E começa uma nova guerra, chamada agora de Gigantomaquia, que durará até depois da chegada dos mortais à Terra.
Irmãos, irmãs e filhos de Zeus preparam o contra-ataque. O combate é feroz. Zeus consegue confiscar a erva mágica, que deixaria os gigantes invulneráveis. Mas é inútil, pois Gaia se obstina. Observando que não conseguirá vencer sem a ajuda de um mortal, Zeus tem uma ideia.
Ele se une à filha do rei de Micenas, Alcmena, e da união nasce um personagem de imensa força muscular, Héracles. Para cada gigante ferido por Zeus, é Héracles que, com suas flechas, desfere o golpe fatal. Mais uma vez Zeus vence seus inimigos.
Para dar uma prova visível de sua vitória, ele deixa em Delfos a pedra engolida e regurgitada por Cronos em seu lugar. É o Onfalo, o umbigo do mundo, que ainda está lá até os dias de hoje.
Poderíamos achar que agora tudo estava resolvido, mas isso ainda estava longe de acontecer. Zeus tem mais um obstáculo desafiador para superar. Para se vingar de novo do destino de seus filhos, Gaia se une ao Tártaro, a região mais remota e perigosa dos infernos.
Dessa união nasce uma criatura monstruosa: Tifão, metade homem, metade besta. Sua cabeça alcança as estrelas. Seus braços, quando estendidos, tocam o Oriente e o Ocidente. O fogo brilha em seus olhos, e a parte de baixo de seu corpo é rodeada de serpentes.
Como se isso não bastasse, para paralisar seus inimigos, Tifão se move dando gritos aterrorizantes, como mugidos de um touro e rugidos de um leão. Quando esse monstro se dirige ao Olimpo, vem o pânico. Os deuses partem em disparada e fogem até o Egito, onde adquirem formas animais.
A fuga ao Egito tem uma consequência inesperada, uma união entre divindades gregas e egípcias. Tifão será identificado a Seth, o irmão inimigo de Osíris. Zeus será assimilado a Hórus. Dioniso se tornará Osíris. Deméter será Ísis, e assim por diante. Uma incrível fusão de dois mundos.
Mas voltemos ao combate travado por nosso herói. Enquanto Tifão procurava Zeus pelo mar da Sicília, este ergue o monte Etna e o atira sobre seu inimigo. Com Tifão enterrado sob os escombros, a autoridade de Zeus é enfim incontestável. Ele é definitivamente o senhor dos deuses.
Agora vem o momento de dividir o universo. Zeus atribui a si o poder supremo, e escolhe como residência o reino do céu. Poseidon, seu irmão mais velho, se torna mestre dos mares, enquanto Hades recebe as chaves do reino subterrâneo, com o poder de reinar sobre os poderes infernais.
Um deus todo-poderoso havia nascido. Zeus, que agora vai governar o mundo, precisa assumir uma função difícil: instaurar a ordem, mas também se preservar do despotismo.


