Que silhueta é esta que penetra o Olimpo, o palácio do rei dos deuses? Um intruso aqui? Como ele ousou entrar? Porque esse misterioso personagem roubou o fogo sagrado dos deuses? Teria se esquecido do risco de um terrível castigo? Tudo começou em tempos remotos. Vamos recapitular.
No início dos tempos só havia o caos. Depois veio Gaia, a Terra-Mãe, que deu a luz Urano, o Céu. Depois se uniu a ele e, de seu encontro, nasceram os Titãs, os Ciclopes e os Hecatônquiros.
Entre os Titãs estava Jápeto, que escolheu uma esposa, Clímene. Juntos eles tiveram quatro filhos: Atlas, Menoécio, Epimeteu e aquele que é o centro dessa história, Prometeu. Diferente de seu irmão Epimeteu , cujo nome significa ”aquele que pensa depois”, Prometeu é o previdente, aquele que pressente os eventos antes que eles ocorram.
Essa rara qualidade será muito útil para ele. Quando Zeus empreende a guerra contra seu pai, Cronos, para conquistar o poder supremo, todos os Titãs se alinham contra ele, exceto Prometeu. Ele previu que Zeus sairia vencedor do conflito. Então, é claro, ofereceu ajuda ao futuro rei do Olimpo, e convenceu seu irmão Epimeteu a fazer o mesmo.
Nesta iminente conflagração, Prometeu oferece ao jovem Zeus o que falta a ele: a força, a astúcia e o ardil, próprio da geração de Titãs. A terrível guerra começa, é a Titanomaquia. Como Prometeu previu, Zeus sai vencedor, e o mundo entra em um período de paz.
É o fim dos combates, das façanhas e surpresas. Agora os dias se sucedem sem novidades e são parecidos. Nessa calmaria perfeita demais, os deuses ficam entediados. Não há mais guerras, mais ninguém para alegrar ou fazer sofrer.
Então Zeus convoca seu filho Hefesto, o deus dos ferreiros, aquele que molda as armas e os atributos das divindades. Zeus pede a ele que fabrique algo diferente, excepcional e único. Algo que pudesse distrair os deuses. Hefesto pensa longamente até que tem uma ideia que atenda o pedido.
Ele chama a seu ateliê os 12 grandes deuses do Olimpo e explica o que espera deles: misturar a terra e o fogo, assim como todas as substâncias compatíveis. Com esses elementos primordiais, eles fabricarão seres vivos, humanos e animais. Essa criação poderia desfazer o tédio dos deuses.
Tudo está pronto, basta decidir as qualidades que serão destinadas a cada um. Zeus encarrega os dois Titãs de cumprir essa função. Epimeteu se anima, e implora ao irmão que deixe para ele a distribuição. Prometeu, embora conhecido por sua antevidência, tem a fraqueza de aceitar.
Epimeteu começa a agir. Ele dá a alguns a força, a outros a velocidade. Dá a alguns longos pelos que os protegerão das intempéries. Calça alguns com cascos. Atribui a outros um espesso couro. Quando termina seu trabalho ele se dá por satisfeito. Mas em sua pressa, ele esqueceu dos homens.
Lá estão eles, indefesos e vulneráveis. O pior é que, tendo gasto todos os atributos dados por Zeus, Epimeteu não tem como corrigir seu descuido. Ele decide então, falar com Zeus, e pede um favor. Que dê aos homens recursos para se defenderem dos animais ferozes e cozinharem seus alimentos.
Zeus aceita e lhes dá o fogo. Ele atinge o solo com seu raio e o fogo incendeia as copas das árvores. Os homens precisarão apenas escalar as árvores para obtê-lo. Essa foi a idade do ouro. A vida dos homens é tranquila. Ela é até mesmo feliz, porque não existe o trabalho.
Também não existem as estações e as doenças. O trigo nasce naturalmente, sem precisar ser semeado. Regularmente, homens e deuses se reúnem em banquetes. A existência transcorre sem qualquer preocupação. Aquele poderia ser o paraíso.
Uma única coisa distingue os homens dos deuses, a imortalidade. E além disso, nessa época os homens não morrem de fato. Quando chega o momento, sem cansaço nem sofrimento, eles adormecem, em plena paz. O deus do sono, Hipnos, os leva consigo, e os conduz a vales verdejantes do mundo subterrâneo. Um lugar chamado Campos Elísios.
Mas um dia, Zeus se cansa de dividir a vida com os humanos em pé de igualdade, de se sentar à mesma mesa que eles, de vê-los participarem das mesas e assembleias. Ele acha que é hora de dar aos homens um lugar específico. Era hora de pôr ordem em tudo aquilo. Zeus no topo, os deuses um degrau abaixo, e os homens abaixo de tudo.
Zeus organiza então um grande banquete na planície de Mecone, onde reuniu homens e deuses. Ele ordena que um grande boi seja sacrificado e dividido em duas partes: a metade mais bela caberá, claro, aos deuses. A outra será dada aos homens.
Todos aprovam a decisão de Zeus, menos Prometeu, que não gosta das novas regras. Ele questiona que sejam tirados dos homens os benefícios de que foram dotados. Zeus o encarrega de fazer o sacrifício e a partilha. Prometeu aceita, pois ele acaba de tomar uma decisão: ele vai enganar Zeus.
Prometeu sacrifica o animal. Ele começa arrancando sua pele, depois ele reúne os ossos e os cobre com uma apetitosa camada de gordura. A mistura adquire um aspecto tentador. E essa é a primeira parte, ela não é comestível, mas parece ser a mais bela. Em seguida, Prometeu recolhe a carne, tudo que é bom e comestível, e a oculta sob um amontoado de pele viscosa, que parece repulsiva.
Prometeu mostra as duas partes a Zeus. A partir de sua escolha, estará definida a fronteira entre os homens e os deuses. Zeus escolhe, claro, a parte que lhe parece mais atraente, aquele que Prometeu cobriu com gordura. Mas quando descobre que são apenas ossos, não comestíveis, ele desata em fúria. Já que é assim, são os homens, os protegidos do arguto Prometeu, que vão pagar.
Zeus decide então, esconder-lhes o trigo, que até então nascia naturalmente, sem exigir lavra ou semeadura. A partir de agora, os humanos serão obrigados a trabalhar para se alimentar.
Depois, o senhor do Olimpo confisca o fogo. A punição é terrível, pois sem o fogo, é impossível cozinhar os alimentos para se alimentar, iluminar-se quando a noite cai, aquecer-se nas noites frias de inverno, além de defender-se dos animais ferozes.
Prometeu corre até Atena, a grande deusa do Olimpo, filha de Zeus, e pede a ela que interceda pelos homens, castigados por um erro que não cometeram. A deusa se emociona por Prometeu, e é por isso que, quando ele implora que ela o ajude a entrar no Olimpo, ela aceita.
É ele que vimos entrar o mais discretamente possível no recinto dos deuses. Foi ele que roubou uma brasa do fogo sagrado do Olimpo e o colocou no caule oco de um funcho. Prometeu vai levar o fogo aos homens. Mas essa nova afronta não ficará impune. É o que veremos no próximo episódio.


